Treme o chão!
Ressoam os tambores de morte!
Agitam-se dragões de fogo!
Ainda no sonho me vejo
nos braços de minha mãe
naquele canto de aldeia:
safra de vida pura, sensível…
Ruge o chão!
Rebentam as trompetas de sangue!
Ilumina-se a noite de horrores!
A garganta abre-se!
Salto do leito, empurrado pelo
medo,
rodeado pela morte.
Gotejam-me da face pérolas
incandescentes
de memórias fervilhando na alma,
queimando no coração.
A negra aurora revela o espesso
fumo,
os gemidos dão voz à agonia.
Os de cá e os de lá, sobre o
mesmo chão,
sofrem a mesma dor, o mesmo terror…
O plangente vazio cumpre-se em todas
as almas!
Que faço eu aqui?
Cumpro ordens para não morrer,
mas, olho à volta, e a morte é a
fuga.
Queria tanto voltar ao meu canto
de aldeia,
queria tanto voltar para os
braços de minha mãe…
Outubro 2021 Hugo Ferrreira Pires