Natal

É Natal,

vibra no ar um coro de vozes…

Dos celestiais mundos de Paz

ouço lindas vozes livres de medo,

escuto a mensagem livre de sofrimento.

Nos lindos rostos angelicais

vejo sorrisos eternos de luta,

sublimes posturas invencíveis,

olhares posados na terna voz.

Um excelso Sol irradia

a pura e infinda Luz

que sobre nuvens e montanhas

expande a lauta mensagem:

Passado, presente e futuro,

ali, aqui, e além,

no agora se unem

e eternamente se expandem e renascem

no pensamento, no sentimento e no acreditar.

Natal é renascer,

Natal é cada instante,

Natal é sempre…

25 de Dezembro de 2019          Hugo Ferreira Pires

Amigo Beato

Amigo Beato

que o tempo agora levou,

a tua rua tem o nome

de quem outrora, lá longe,

também voou.

Estou eu aí também nessa rua,

onde o meu coração lembra consciente

o teu carinho, o teu grande coração,

a tua empatia sempre presente.

Amigo Beato,

fazes parte da minha infância,

fazes parte dos bons exemplos

que a terra me deu, como uma fragrância

que não se apaga, que não esvanece.

Amigo Beato,

voaste há dias para onde pertences,

talvez seja longe, talvez seja perto,

mas no meu coração permaneces

num dia de Sol, de braços abertos…

Dezembro 2019          Hugo Beato Pires

Da Negra Madrugada

Inspiro da negra madrugada a frescura

do Universo vibrando nas estrelas além,

envolvido nas memórias que o tempo tem,

que o sonho libera na noite escura.

Viajo no espaço e no tempo até onde não sei,

e aí chegado recordo tudo o que esqueci,

esqueço tudo o que em mim venci…

E volto ao sossego oculto das lutas que suportei.

Nesse absoluto silêncio ressoam ancestrais

as vozes gravadas no contínuo éter universal,

ressurgidas dos primórdios essenciais.

Dessa memória subliminar se investe intemporal

a cinética vontade das forças celestiais

e a profunda entrega à verdade espiritual.

Dezembro 2019          Hugo Ferreira Pires

Sementes de Oiro Celestial

Correm juntos no meu coração

dois mananciais de sublime oração,

brotam de um Universo em flor,

espaço de Vida e de Amor.

Na minha vida unidas,

crescem duas árvores floridas,

onde a água lhes advém

das nascentes brotadas Além.

Douram seus frutos acalentados

como sorrisos iluminados

nessa Luz de ternura,

nesse Amor que perdura.

Sementes de oiro celestial

crescem no fruto essencial

inumadas no lesto vento,

na fonte do meu alento.

Novembro 2019          Hugo Ferreira Pires

Nesses Olhos

Nesses olhos rasados de tristeza

resplandece o meu olhar:
luz correndo sonhadora
às águas do teu mar. 

Nessas mãos trémulas de incerteza
pousa o calor dos meus dedos
ainda escrevendo os versos
deste Amor sem medos.

Nesse sorriso de nós esquecido
ergue-se a indelével memória
de um país d’outrora
feito de sonho e de glória. 

Nesses caminhos sofridos
segue certo o meu passo,
abrindo à floresta da vida
um caminho de Sol e de Espaço.

Outubro 2019          Hugo Ferreira Pires

Coloridos são os Campos

Coloridos são os campos

no azul dos céus erguidos

entre raios de clareza

e nuvens de incerteza.

Purpúreos tons de malvas

ladeiam a tristeza amarga,

por ser pecado a bondade

e ausente a hombridade.

Brancos lírios de alabastro

navegam no olhar da solidão

como caravela perdida

buscando a terra prometida.

Vermelhas rosas ardentes

latejam de dor no peito,

são bravas como o vento

e voam como o pensamento.

Com espinhos cravados no corpo

se ergue a vida indefesa,

que de tanto durar incerta

é milagre que desperta.

Setembro 2019          Hugo Ferreira Pires

Sopro de Clarim

Rubras pétalas incandescentes

são música subindo ao sol
como um canto de rouxinol
sobre o correr das nascentes. 

Bem-me-queres banhados de ouro
coroados de alva amizade,
são assim como a saudade
contemplada de um miradouro. 

Sem que o vento abrande,
uma linda melodia sem fim
no céu azul se expande. 

E lá do alto, canta um Serafim
de sorriso largo e olhar grande,
como um sopro de clarim…

Setembro 2019          Hugo Ferreira Pires

Fadas da Noite

Cascatas de verdes sonhos,

imbuídas de vida e de pujança,

discorrem dos troncos a esperança

erigida aos céus bisonhos.

Da noturna lua, pérolas luminosas

se estendem como um bragal

sobre as finas pétalas de cristal

dos crisântemos, cravos e rosas.

Invisíveis sininhos sibilantes

anunciam as eternas fadas lunares

em delicados voos jubilantes.

No ar etéreo, mansos fumegares

incensam os espíritos cintilantes,

levando magia a todos os lugares.

Agosto 2019          Hugo Ferreira Pires

Sol de Apolo

I - Negrume 

No negrume da noite deambulam
entre as almas esvanecidas
círios apagados que as horas anulam:
gentes da vida esquecidas… 

Fontanários de ex-vida ejaculam
em preâmbulos de atalhos impúdicos,
enquanto cemitérios de ideais especulam,
olvidados, marmóreos, esfíngicos… 

No olhar de Hades brilham
os diamantes, os rubis e as safiras
que em seus faustos palácios ladrilham. 

No dorso de Poseidon navegam as mentiras
como barcos que apodrecem e encalham
em perdidos mares de repetidas iras. 


II - Alvor 

No dourado alvor além-horizonte
estende Ártemis o sagrado beijo
ao sangue irmanado subindo defronte:
galopar vitorioso em crescente adejo… 

É Apolo renascido do breu profundo
profetizando Luz e Harmonia,
esconjurando da noite e do submundo
a negridão, a loucura e a agonia. 

Os mares vibram de azul, verde e anil,
encimados de lúcidos reflexos viajantes…
E nascem ilhas de utopias vestidas de abril! 

Os céus tecem rendas flamejantes
talhadas de flores, colibris e cores mil:
secreta eternidade de luzes atlantes. 

Agosto 2019     Hugo Ferreira Pires

Tarde Estival

Sorrisos e salpicos

confundem-se no natural

decorrer dos diálogos

palrados e adoçados

no terno calor

desta tarde estival.

Nestas margens fluviais,

corridas e passeios

concorrem incessantes

com comidas e galanteios.

Pais e mães amparam

gargalhadas, choros e saltos

com paciência no coração

e alguns sobressaltos.

Crianças constroem

com o silêncio da areia

e o cantar das águas

os montes e os castelos

de futuros ainda incertos.

Jovens namoram com o olhar

os sonhos e as miragens

que se constroem além

e se prolongam nestas margens.

Outros, na sua solidão,

nadam em sonhos de fama

ou nas águas da desilusão,

que a vida nem sempre

estende a mão...

Julho 2019          Hugo Ferrreira Pires

Descobrimentos

Os despojos lusitanos
afiguram-se ao fundo,
nas entranhas do mar,
nos confins do mundo.

Dourados sonhos naufragados,
encimados de adagas
latejantes de dor,
sob mantos de vagas.

Luz e trevas se cruzaram
nas cruzes de um império
tão perfeito quanto quimérico,
tão imperfeito quanto esotérico.

Vozes foram caladas
enquanto outras vociferaram
no sangue dos povos exangues
as fés que nāo lograram.

Sob as injúrias
dos punjentes tempos idos
canta hoje um coro
de corações renascidos.

Dos sangues d'outrora cruzados,
dos sangues d'outrora esvaídos,
laços fraternos nasceram
pela força do tempo erguidos.

Julho 2019          Hugo Ferreira Pires

Alvorecer

O suntuoso alvorecer,
carregado de futuro,
lavora nos marítimos céus
com o luminoso arado solar. 

Nas montanhas e nas encostas
amontam e descem as sombras
acossadas pelo inexorável tempo:
centrifugador da alma divina! 

A semente inumada
no leito telúrico
exala a energia vital,
expande no mundo
a visão desembrumada
do horizonte alvorecido. 

E o verde terrestre,
oxigenado pelos céus infindos,
floresce continuadamente
em todas as estações:
tetralogia infinda
de renovação e aprendizagem. 

Junho 2019          Hugo Ferrreira Pires

     

Encontrei um Trevo

Encontrei um trevo,
um lindo e verdejante trevo,
com as folhas da sorte
indicando o Norte
e a esperança percutante
vibrando no tempo adiante.

Talvez os quatro ventos
me tragam felizes eventos
e me levem aos campos floridos
onde se acalmam os tempos sofridos.

Talvez um verde país se levante
e me envolva galopante,
arrimado de luta e de coragem,
sem penumbra nem miragem,
adentro no mar profundo,
adentro no Universo sem fundo.

Encontrei um trevo,
um lindo e verdejante trevo,
com as folhas da sorte
esquecidas do tempo e da morte.

Transição

Na penumbra desta manhã,
fria, cinzenta, tempestuosa,
circula o fogo intenso
de uma perda agreste, austera, impiedosa! 

No interregno da convulsão atmosférica
surge leve, pungente, indiferente,
essa gaivota marítima, etérica,
anunciadora de tempestade,
pronunciadora de liberdade… 

A tempestade passou
e os ventos são agora de bonança;
a ave punge os marítimos ares
longe da terra das gentes,
longe dos uivos descontentes. 

O fogo intenso é agora cinza
e um ténue fumegar incensado
renascido da Fénix em ascensão,
derrama o aroma da transição. 

Junho 2019          Hugo Ferrreira Pires

Irrelevância do Tempo (Gentes da Minha Terra)

Vivo na irrelevância do tempo,

inundado de passado, de presente e d’além,

acarinhado nos afagos do vento

e nas gentes da minha terra.

Navego, baloiçando, num oceano de Amor,

recebendo as vagas irreverentes

de quem sempre me embalou

nas verdes vertentes

dos extensos pinhais.

Serra abaixo, serra acima,

encimo o meu coração

com os odores de giesta e alecrim

que desde criança invadem

a profunda perceção de mim.

Uma maré escaldante

almeja os meus olhos de menino

num pranto silencioso, prazeroso,

enquanto os sons, os gestos,

os olhares e os sorrisos

me acalentam as memórias, o agora e o além:

o além tempo, o além sítio, o além memória…

Vivo na irrelevância do tempo

que me leva acalentado

na eternidade do vento e do Amor

das gentes da minha terra. 

Mai 2019          Hugo Ferreira Pires

Bruma Branca

Rios e mares de bruma branca
espraiados sobre o extenso mar de terra,
onde a vida implora o sol distante:
esplêndido, benevolente, magnânimo!

Montanhas banhadas de níveos cimos
declaram Paz aos céus,
recebem o ouro alto e distante,
fino e invisível, simples e eterno.

Do alto tudo é pequeno, tudo é magnânimo,
tudo é menor, tudo é maior!
E o tudo de cada um é o mundo de todos nós...

Abril 2019          Hugo Ferreira

Liberdade de Abril

Fala hoje a Liberdade

de uma multidão

que soube dizer NÃO

com as mãos ásperas do trabalho,

que soube dizer BASTA

com a roupa do tempo gasta!

Grita hoje a Liberdade

do Povo unido, esclarecido,

que jamais a vontade

o deixará vencido!

Canta hoje a Liberdade

de uma nação inteira

que ao sol da Primavera

iluminou a sombra de uma azinheira!

Voa hoje a Liberdade!

De mão em mão há cravos

fogosos de Paz, vermelhos de paixão,

anunciando a justiça ao mundo

pela eterna voz dos bravos!

25 de Abril de 2019          Hugo Ferreira Pires

Sussurro do Vento

O sussurro do vento

explicou-me o momento;
a exclamação da mentira
esmoreceu-me a alegria. 

Mas do amor que sustento
retiro o alento
que me conduz ao relento
entre as estrelas e o pensamento… 

Na brisa de cada dia
a esperança mitiga
a dor e o pranto
que se elevam no meu canto. 

Nada do que tenho
é verdadeiramente meu!
Tudo o que tenho
é muito mais que eu! 

Tenho no sangue a alva oração
e nos pés um caminho de reflexão;
tenho no olhar um prado em floração
e nas mãos... as flores do coração.

Abril 2019          Hugo Ferreira Pires

Caminho

Sim, cai neve no meu caminho…
Ainda ontem a chuva
me encadeava o olhar
absorto no sol do passado.

E no passado, eu olhava o futuro,
imaginando uma Primavera eterna
de jardins frementes,
de árvores clementes.

Ainda ontem, era eu criança,
a minha aldeia era o paraíso,
era ela o mundo,
o meu sorriso.

Hoje, resta-me o sol acima das nuvens
bem longínquo, lá no alto,
sob o qual se estende este alvo manto:
branco silêncio de paz perdida…

Quero de novo o sonho infantil
e a poética quimera primaveril!
Quero de novo sentir a Primavera,
essa chama eterna que me acalenta na espera
e me sorri ao coração…

Hugo Ferreira Pires          Abril 2019

Entre a Serra e o Mar

Nasci junto ao mar

implorando navegar,

chorei sal num grito solto

em lânguidas brumas envolto.

Cresci entre a serra e o mar,

entre a ceifa e o luar;

vivi searas e maresias

ora mornas, ora frias…

Na distância do tempo trilhado,

um caminho de lágrimas talhado

me afronta a vontade e o querer,

sem medo de ganhar ou de perder.

Tenho na dor a prontidão do sorriso

e a Luz que enfatizo;

sou alegria na esperança futura,

no luar da infância, no sol da cura…

Março 2019          Hugo Ferreira Pires

Flores de São Valentim

São flores de São Valentim
e um sorriso ao ver teu rosto,
são beijos vindos de mim
ao lado de quem tanto gosto.

São flores de São Valentim
e um sol primaveril,
são abraços florindo sem fim
nesse lago de sonhos mil.

Fevereiro 2019          Hugo Ferreira Pires

Neve

São flores nascidas no céu,

abraçadas pelo vento,

beijadas pela aurora,

trazidas pelo tempo!

São sonhos lavados de puro,

aconchegados em lívido linho,

engendram asas de esperança

sopradas do seu ninho.

É de pétalas de margaridas

este níveo manto de flores,

terna visão de brancura

contendo todas as cores.

Fevereiro 2019          Hugo Ferreira Pires

Lago Maior

Reflete o infinito

este lago prateado,

vive de azul e de negro

o seu fundo camuflado.

As verdes colinas

amontoam-se ao redor,

olhando as estrelas

neste espelho maior.

Reflete o meu olhar

esta água imaculada,

mirando o infinito

desta vida conturbada.

Aqui me junto ao negro

e ao azul celestial,

aqui recebo a força 
e rumo ao essencial.

No fundo deste lago

mora a cor do infindo,

mora a dor dos meus olhos

e a coragem… sempre luzindo… 

Janeiro 2019          Hugo Ferreira Pires