sábado, 24 de novembro de 2018

Palco

Acendem-se luzes a perder de vista…
Um mar de gente se agita…
Os focos encontram o artista!
E a multidão grita… grita… grita…

Vai descalço o artista! Sua voz evade…
E gritam as multidões castradas
como condenados gritando liberdade,
achados no pó das estradas.

Canta o artista a música das esferas!
Profere sua alma as notas celestiais!
Evoca sua voz os sonhos e quimeras
das gentes pregadas a sortes desiguais!

Voa alto o artista em asas de magia!
Sopra reconforto aos ouvidos ansiosos,
aos corações receosos, à esperança bravia…
Voam longe os sonhos sequiosos…

Apagam-se as luzes a perder de vista…
Evade-se o artista…
Um mar de magia perdura…
Um longínquo alvorecer se afigura.

Novembro, 2018          Hugo Ferreira Pires


terça-feira, 13 de novembro de 2018

Pinheiro Luzente

Pinheiro luzente que me levas
numa longínqua viagem ao berço
da minha vida, daquela vida sem trevas,
que de tão longe quase me esqueço;
pinheiro que ao pranto me elevas!

Pinheiro assim plantado na cidade,
de alcatrão e cimento amparado,
assim me trazes a terna mocidade
envolta num abraço avigorado,
no compasso de um tempo sem idade.

Pinheiro com fragrância de beira-mar,
tua maresia traz-me os extensos areais
onde caminhos tracei junto ao mar:
trilhos sulcados de altos ideais,
sonhados nas ondas a clamar…  

Pinheiro com um pardo manto de caruma,
trazes-me o doce odor das camarinhas
que a saudade saboreia uma a uma;
daqui avisto caravelas e memórias minhas
vindas d’além, trespassando a bruma…

Pinheiro ancião coroado de louvor,
lar de histórias e marés infindas,
destronas as trevas com teu doce alvor;
tuas lembranças dão-me as boas-vindas
nesse mundo onde vivo sem pavor.

Novembro, 2018          Hugo Ferreira Pires