segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Rubras folhas de Outono

Rubras folhas de outono
aquecem as memórias do tempo
num fogoso tapete,
levado pelo vento…
 
Escarlates, vermelhas, amarelas,
cor de laranja, cor de limão,
assim como os sabores da vida,
levados de mão em mão.
 
As árvores revelam seus braços
votados ao céu
implorando nova veste
ou talvez um fino véu…
 
E o céu, percebendo o pedido,
oferece uma névoa de pensamentos
ou forja então, intempestivo,
espessa bruma de sentimentos.
 
Novembro 2021          Hugo Ferrreira Pires



domingo, 31 de outubro de 2021

Soldado

Treme o chão!
Ressoam os tambores de morte!
Agitam-se dragões de fogo!
Ainda no sonho me vejo
nos braços de minha mãe
naquele canto de aldeia:
safra de vida pura, sensível…

Ruge o chão!
Rebentam as trompetas de sangue!
Ilumina-se a noite de horrores!
A garganta abre-se!
Salto do leito, empurrado pelo medo,
rodeado pela morte.
Gotejam-me da face pérolas incandescentes
de memórias fervilhando na alma,
queimando no coração.

A negra aurora revela o espesso fumo,
os gemidos dão voz à agonia.
Os de cá e os de lá, sobre o mesmo chão,
sofrem a mesma dor, o mesmo terror…
O plangente vazio cumpre-se em todas as almas!
Que faço eu aqui?
Cumpro ordens para não morrer,
mas, olho à volta, e a morte é a fuga.
Queria tanto voltar ao meu canto de aldeia,
queria tanto voltar para os braços de minha mãe…

Outubro 2021          Hugo Ferrreira Pires     



sábado, 14 de agosto de 2021

Sublimação

Lágrimas do tempo
são lenha ardendo
na lareira da saudade:
salgada maré de memórias.
 
Das vidas são feitas histórias
que nos banham
em repetidas ondas,
quantas vezes nos olhos sentidas…
 
E de olhar levantado
tentando enxergar tudo,
tudo quanto se vê
é a baça bruma do passado
e o sonho ataviado
nas amarras do tempo.
 
Libertar-se do tempo
engrandece a vida,
ilumina a saudade,
saúda o porvir…
 
Agosto 2021          Hugo Ferreira Pires




domingo, 8 de agosto de 2021

Não Somos Quem Somos

Não somos o troço de madeira
flutuando sobre o largo abismo oceânico,
mas a fausta dança das marés.

Não somos a ave abandonada aos céus
perdida em ventanias de agonia,
mas o pleno cantar dos ventos.

Não somos o grito do amargo desespero
travado no peito sofrido,
mas o eterno canto da vida.

Não somos o sofrimento da ausência
sangrando num coração trespassado,
mas a eterna esperança luzindo Amor.

Não somos quem somos.
Somos algo por encontrar
nas infindas notas
de uma música maior,
uma música que é de todos,
onde todos somos Um.

Julho 2021          Hugo Ferreira Pires



sexta-feira, 14 de maio de 2021

Quando eu Morrer

Quando eu morrer,
nascerei num dia de Primavera
no doce canto da natureza
ou nascerei na penumbra de um Inverno
nas sombras que me percorreram?

Quando eu morrer,
será o tempo uma recordação
ou a eternidade do que virá?
Serei o tempo do que fiz
ou farei do tempo a foz
nos mares onde naveguei?

No dia em que eu morrer,
será a minha casa o jardim
dos sonhos do que não vivi
ou será a lama das lágrimas que não chorei?
Será o Sol um terno e paternal abraço
ou um ardor insuportável na alma
ainda não pura da Luz que perdeu?

Quando eu morrer, serei apenas eu,
serei tudo o que não fui
ou serei o que de mim já houvera esquecido?
Terei a meus braços as gentes que conheci
ou estarão eles em mundos que nunca vi?

No dia em que eu morrer,
estarei onde já estive
ou brotarei de um solo
que jamais houvera eu sabido existir?
Serei eu um ponto, uma sombra ou uma luz?

Maio 2021         Hugo Ferreira Pires





sábado, 10 de abril de 2021

Como uma Flor

Surgiste como uma flor
num prado de primaveras,
num pranto de louvor,
um desabrochar sem esperas.
 
Ergueste como uma súplica
um templo aos céus,
um caminho que te indica
a verdade, sem medos, nem véus.
 
Desvelada está a flor
no prado da minha vida,
no templo do teu Amor,
Luz de ti colhida.

Março 2021         Hugo Ferreira Pires



sexta-feira, 12 de março de 2021

Perene a Alma

Rebanhos de neve 
populam de nívea veste 
os verdes caminhos 
sob a áurea fonte celeste. 

Os gelados cumes 
ecoam num grito 
a liberdade e a vida 
aclamados ao infinito.

E lá no alto,
no âmago da perene calma,
vive o terno Sol 
no sopro da eterna alma.

Perene o tempo
que o vento aclama,
perene a alma
da mesma chama.

Março 2021          Hugo Ferreira Pires



















sábado, 16 de janeiro de 2021

Novas Pátrias

Porque choras Primaveras

no tenro húmus deste chão?

Porque revolves teu coração

numa chuva de quimeras?

 

Porque navega tua saudade

em alagados soluços de memórias?

Que intemporais ausências perentórias

te vedam no peito a liberdade?

 

Vês o avanço do tempo em cada instante?

Nada será o que foi, nada é o que será;

mesmo o que vês e o que sentes, mudará…

E o tudo sempre te espera adiante!

 

Sobre o tenro húmus, passo após passo,

chegarás a outros mares, ventos e faróis;

inolvidável presença de novos sóis,

novas pátrias, novos rumos, um outro espaço.


16/01/2021          Hugo Ferreira Pires