quarta-feira, 26 de julho de 2017

Promontório de Sagres

Nesta fortaleza se estendem lapiás,
Solo infiltrado das águas que o tempo traz;
Aqui jazem algares sibilantes ao vento
Levantando do mar o eterno chamamento;
E no espaço, a depurada bruma incessante
Aclama por Dom Henrique, o Infante!

Desce as escarpas o olhar deslumbrado, pungente,
Unindo-se ao mar pujante de alma e gente;
E além... o horizonte... circular e exclamado:
Flama das Descobertas, novo Mundo descerrado,
Vastidão mareada descida além Bojador,
Monstros vencidos com a lâmina do ardor!

Neste alto promontório, altar de Portugal,
Ruge o vento domado de um querer ancestral;
Finisterra do continente das Luzes e da Ciência,
Mar sonhado na sua verdadeira essência...
É aqui, na pungente Ponta de Sagres, onde residem
O sonho, a força e a vontade, que ao tempo sobrevivem!

Julho 2017          Hugo Ferreira Pires



terça-feira, 25 de julho de 2017

Cacela Velha

Cristalino o mar
Brilhando a teus olhos,
No teu ondular
Fluem algas aos molhos.

Afagante o vento
Espalhado no teu rosto,
Delicado unguento,
Doce como o mosto.

Suave a areia
Dourando ao sol,
Centelhas de lua cheia
Luzindo como um farol.

Belo o monte
Encimado por esta aldeia,
Anseio que a Ria me conte
Seus segredos de dulcineia.

Com teu encanto escolhes
A beleza que a Ria espelha,
A todos com amor acolhes
Minha bela Cacela Velha.

Julho 2017          Hugo Ferreira Pires



domingo, 23 de julho de 2017

Horizontes Algarvios

Serras pardas, profundas no tempo,
levantam-se ao longe içadas pelo vento.
Encontro de sol, ferro e fogo,
histórias de sangue, lutas e rogo.

Deste rubro chão brotam alvas cidades
moldadas em belas tonalidades;
suas gentes sorriem iluminadas,
olhares brilhantes em suas faces tisnadas.

Mãos escuras do tempo abrem a lavra
sobre o solo ardente como lava,
erguendo-se ao ar blocos de terra encarnada
entre os sulcos abertos na terra descarnada.

Sonhos revelados no calor de cada dia
em velhos caminhos empoeirados de magia,
serpenteiam o escasso arvoredo encantado,
e espraiam-se entre arribas, no mar extasiado…

Rubro mar ardendo em centelhas
afagando margens de terras vermelhas,
ponte de água repleta de História,
estrada de glória... por vezes ilusória…

Algarve aqui… África ali… Além Bojador acolá,
terras sangradas e comerciadas, muito para lá…
E do horizonte infindo chega o tempo e a solidão
de uma história que levou Dom Sebastião.

Julho 2017          Hugo Ferreira Pires



sexta-feira, 7 de julho de 2017

Os Mundos de Neptuno

                     [A Escuridão...]

Ruas de um Neptuno dos confins planetários
Trazidas pela bruma de tempos lendários,
Calçadas intrigantes de quadraturas solares
Meandram prédios viajados d’outros mares.

Enigmas de mundos fantásticos
Afloram coloridos e entusiásticos
As escurecidas paredes crispadas,
Pelas órbitas do tempo conquistadas.

Caminhar longínquo sobre muros de arte,
Com corpos estampados em cada baluarte,
Estátua caminhando manca na cidade,
Esculpida pelas mãos da alucinada vontade.

Planeta marcado num velho grafiti deslavado,
Pauta ausente de vida num quinteto afinado,
Dança louca num palco de pesadelo, sem dó,
Evasão desvairada de ópio, erva e pó.

Religiões alucinadas esmagando altares,
Torpes espiritualidades de todos os lugares,
Discursos fundamentalistas ditando a sorte
De quem tece seu leito de morte.

Egrégora de multidões ausentes da razão
Nas velhas e tortuosas ruas da ilusão,
Onde os passos das almas esconjuradas
Ecoam em paredes abandonadas.

Apartamentos viajando como naves loucas
Em Universos de profecias moucas
Assentes num globo frenético sem norte,
Rolando e transladando num jogo de sorte.

Palavras embebidas em deleites de Baco
Ressoam em paredes de tom opaco,
Gritam loucamente em luxúria desmedida,
Escrevem uma história de prazer florescida.

                     [A Súplica...]

Meu grande Neptuno,
Mostra-nos tua face de Azul Celestial
E teus lautos acordes marítimos,
Providenciando aos Deuses um manancial
De teu equilíbrio legítimo.

Meu bom Neptuno,
Mostra-nos teus grandiosos poemas de Luz
Criados no halo de teu supremo ânimo,
Mostra-nos teu sublime tridente que conduz
As águas de um mundo magnânimo.

Meu velho Neptuno,
Mostra-nos tua fonte de água pura e cristalina
Vinda de estrelas lúcidas de Espiritualidade,
Deixa-nos beber dessa tua água que culmina
Enlaçada na eterna lança da Humanidade.

Meu bom e velho Neptuno,
Deixa-nos em tuas límpidas pautas navegar
Melodiando as notas do Amor e da comoção,
Num globo rodando na Luz do despertar
Onde equilíbrio e fraternidade florescem no coração.

Julho, 2017          Hugo Ferreira Pires