sexta-feira, 31 de março de 2017

Amor em Lisboa

Nas ruas de Lisboa
Nossos corações se abraçaram,
Num recanto da sua proa
Nossos corpos se enlaçaram.

Na brisa do Tejo
Embalámos nosso Amor.
Num barco onde te vejo
E te beijo com ardor.

Num cais deste Rio
Saudosos abraços se deram,
Diante as águas em silêncio
Que para longe tudo levaram.

Do alto deste avião,
Vendo Lisboa inteira,
Chama por ti minha solidão,
Saudosa da tua beira.

Lisboa antiga, Lisboa bela,
És cais de Amor e Paixão,
Brilhas alta como uma Estrela,
Cidade Luz do meu coração.

Março, 2017          Hugo Ferreira Pires


sexta-feira, 24 de março de 2017

Primavera Distante

Este céu cinzento sussurra solidão,
este ar humedece as lágrimas guardadas,
este vento constante clama a imensidão,
e este frio penetrante entristece as alvoradas.

Saudade da marítima bruma salgada,
trazida em barcos de todo o mundo;
Saudade da Pátria encantada,
assomada na voz deste mar profundo.


Primavera adiada no tempo incessante,
buscando e concentrando energia latente;
olho impaciente o seu futuro radiante,
por entre o cinza que a agarra persistente.

Do cais deste céu cinzento,
minha Pátria partirei buscando;
viajarei fora deste tempo,
junto ao infinito celeste voando...

... E à Pátria desejada finalmente chegado,
envolve-me a Primavera em clamor!
Entre a água chorada e o ar respirado
resplandece da semente... a Flor!

Março, 2017          Hugo Ferreira Pires

sexta-feira, 17 de março de 2017

Teresa Salgueiro

Dessa roupagem telúrica
Brota tua voz de maresia,
Sublime vibração quimérica,
Mar de intensa magia.

Viçosos vimes de Salgueiro
São teus braços estendidos,
Navegam com alma de barqueiro
Por entre ventos esquecidos.

Longínquas estrelas fulgentes
Esvoaçam na brisa do teu canto,
Trazem imagens incandescentes,
Instantes eternos de encanto.

Vozes antigas de Portugal
Elevam-te além do Horizonte,
Lavram em tua alma Universal:
Caminho que olhas defronte...


Imagem gentilmente cedida pelo
departamento promocional de Teresa Salgueiro
www.teresasalgueiro.pt


sexta-feira, 10 de março de 2017

Universo

E neste corpo tão profundamente desci,
Tão profundamente esquecido fiquei de mim mesmo;
Longe das quimeras ancestrais,
Longe das entidades amigas e saudosas.

Visões de um passado etéreo 
Chegam-me em flashes,
Numa descarga de sonhos, visões e sensações;
São vindos de longe do Universo,
Talvez mesmo de outras matérias feitos.

Sinto no cérebro um bloqueio
Limitando a expansão do meu Eu,
Como uma prisão onde apenas
Troços de Luz chegam do exterior.

Ai exterior….
Tantas vezes me sinto exterior a mim mesmo…
Sinto-me um estranho neste mundo estranho,
Pareço viver no reflexo de algo escondido que sinto conhecer…
Conheço-o, sinto-o, mas não sei onde se esconde…

Talvez não se esconda!
Talvez esteja entranhado em tudo e em todos,
E apenas o veja sentindo-o,
E apenas o toque sonhando-o.

E quantas vezes trazido do fundo dos sonhos,
Tendo revisto mundos e amigos d’Além,
Me sustenho durante prolongados segundos
Numa levitação aparte daqui….
Disseram-me tanto…. Revi tanto….
Mas apenas alguns resquícios de lembrança pousam sobre mim:
Fagulhas do longe incendiadas!
Apenas essas fagulhas incandescentes de longínquo Universo
Me transmitem algo, apenas compreensível nos sonhos,
Num estado mental fora da matéria racional e emocional…

De que profundezas vim? De que parte deste Universo?
De qual das partes invisíveis nos alimentamos?
De qual das vastas partes inacessíveis advimos?
Qual das partes incompreensíveis compreendemos que nada compreendemos?

Nesta corrente de vida física iludidos vivemos…
Ilusões saudáveis e vitoriosas permitindo-nos acompanhar o ritmo da vida com esmero,
Agindo com bondade, tolerância, fraternidade e lealdade aos princípios Humanos;
Ilusões corrompidas de ânsia de ter, de poder, de aniquilar o outro, de saciar instintos…
Ilusões da matéria…
Ilusões de vencer, conseguir e comparar-se….
Tudo parece uma real ilusão, uma ilusão na realidade.

De muito longe advimos para aqui mergulharmos:
Longe das Altas Verdades e da Luz,
As quais um dia percebemos na perfeição, antes de aqui descermos.
Mas aqui tudo se complexifica na complexidade dos ânimos terrenos;
A carnalidade e a ossificação que nos vestem o verdadeiro Eu,
Distanciam a nossa compreensão das Altas Verdades e da Luz.

Universo!... Onde tudo acontece, onde nada percebemos;
Universo!... Longe da nossa compreensão;
Universo!... Onde acontece tudo o que somos, tudo o que fomos e tudo o que seremos...

26/02/2017          Hugo Ferreira Pires


sexta-feira, 3 de março de 2017

Mulher na Via Pública

Corpo triste e desolado
Exigido por todos e qualquer um;
É como um bem comum,
Para quem compra seu agrado.

Com olhar absorto e angústias no rosto,
Vai tecendo preces à Santa do seu altar;
Pede-Lhe uma família e um lar,
Roga-Lhe que se quebre o desgosto.

As manhãs, tardes e noites são salgadas,
E os seus olhos viajando nessa eternidade,
Pouco mais são que lágrimas esgotadas.

Sonha conquistar outra realidade,
Onde as fartas lágrimas guardadas
Sejam o rio de uma nova verdade.

Março 2017          Hugo Ferreira Pires






Nota: Este soneto é uma adaptação de um poema da minha autoria escrito em Dezembro de 2003, e foi escrito pelo facto de vezes sem conta, durante os meus anos de infância e de juventude, eu observar a presença de mulheres a prostituírem-se junto à Estrada Nacional, perto do sítio onde morava,