segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Portugueses que foram ao mar

Portugueses que foram ao mar,
Na esperança de Descobrir!
Portugueses que foram ao mar,
Descobriram e desvendaram.
Portugueses que foram ao mar,
Morreram, sobreviveram, viveram.
Portugueses que foram ao mar,
Casaram com a Glória,
E por uma vez esquecidos
Hoje são lembrados na música
Do ondulante mar

Março 1999          Hugo Ferreira Pires


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Dar

O pão que alimenta a boca do pobre
É o ganha pão do seu sorriso,
É por vezes o pão do dó de quem dá,
E quem dá, saboreia o gosto do agradecimento.

Dar é trocar sentimentos
É dar um pouco da nossa alma
É receber o fruto do nosso gesto
É tocar na alma do outro sem a ferir.

Dar é ir além do gesto e do corpo
Numa metafísica de almas
Que se enlaçam num corpo único.

Agosto 2016          Hugo Ferreira Pires


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Príncipe Desencantado

Sou um príncipe desencantado pelo Amor passional...
Como cavaleiro conquistei castelos sem princesa,
Ganhei territórios sem condessa,
Recebi países sem rainha.

No meu conto desenfadado
Talvez me ajude o Fado, do meu país,
Musicando a sua tristeza numa confortável sonolência...
Sonolência apaziguadora
Envolta numa chama de incenso sagitariano,
Longa e espiritual...

E deixo-me envolver num lume brando de recordações,
Das lutas de espadas tiradas de algibeiras de suor,
Dos territórios ganhos e perdidos pelas diversas batalhas da vida,
Dos risos, sorrisos e medos da infância,
Dos ardores e dúvidas da adolescência,
Dos combates da vida,
Das desilusões passionais,
E das conquistas invisíveis...

Tenho a valentia de lutar e a vontade de viver!
Apesar do desencanto do Amor passional
Sinto Amor Universal pelos castelos conquistados,
pelos territórios ganhos e pelos países recebidos,
Sinto Amor Universal pelo Mundo...

E deste Amor raiando em todas as direções
Nasce em mim um cavaleiro de Luz
Pousado sobre um Unicórnio de Amor
Cavalgando por castelos, territórios e países
Onde não existe posse, nem reis, nem rainhas, príncipes ou princesas, 
Mas sim Luz, Cor e Amor...

E de coração cheio sigo a caminhada....
Em direção ao Eterno...

Agosto 2016          Hugo Ferreira Pires


domingo, 23 de outubro de 2016

Tio Vítor

Para Angola cedo partiste,
Deixando Portugal no longe do espaço.
Aguardavam a tua volta, sorriso em riste!
Mas tarde voltaste com a morte no regaço.

Conheci-te depois, na distância do tempo ido,
Numa história de guerra e de saudade,
Conto de um império perdido
Envolto em sonho e elevação, ganância e crueldade.

Das tuas fotos brancas e cinza
Guardo o teu rosto de inquietude feito,
Misto de amabilidade e incerteza
Espelho de bondade no teu peito.

Um dia, num sonho nos encontrámos,
No grupo desportivo que criaste,
Quase sem palavras nos comunicámos
E novamente para longe tornaste.

Aos que a vida deixaram no Ultramar,
A gente da terra erigiu a estátua que lá está.
Não falo de heróis, que na guerra não os há,
Falo sim da dor nos nossos corações, a queimar...

A ti, meu tio Vitor,
Uma rua com teu nome abençoaram,
Desagua no Adro onde nasceste e te choram,
Caminho da tua ausência... rua que sei de cor.

E num mundo diferente,
Vivendo serenamente,
Esperas o retorno ao mundo terrestre,
Tão belo quanto cruel,
Tão cheio de ódio quanto de Amor!
Que o destino te dê Amor,
Uma nova vida cheia de cor!

Agosto 2016          Hugo Ferreira Pires