domingo, 26 de julho de 2020

O Meu Chão é de Terra

O meu chão é de terra
e o horizonte enverga um manto
de poeira levantada
na trémula voz do meu canto.

A misteriosa sombra do Poente
acorda os opacos ventos
na anunciada penumbra
de segredos e tormentos.

O nevoeiro da noite
traz da ilusão a fina veste
como cegueira perdida
na luta que minha alma reveste.

Enquanto os ventos vagueiam
sob a prata da lua,
acorda do sono a coragem
na proa de uma falua.

E assim desperta o Nascente
como um sopro salvador
colorindo as vestes de Apolo
com o rubro fogo lutador.

O meu chão é de terra
e o caminho enverga a vontade
de erguer a coragem
nos passos acesos da verdade.

A poeira de hoje será no horizonte
o sedimento da estrada percorrida:
sublimes grãos de experiência
na contínua esteira da vida.

Julho 2020          Hugo Ferreira Pires



quarta-feira, 15 de julho de 2020

Cisnes

Na sublime delicadeza destas águas,
de outros mundos navegantes,
formosos cisnes viajam deslizantes
na onírica música da Neptuno.

Serenos nas intempéries
como um sol estival,
enxugam as lágrimas aladas
tombadas do temporal.

Toda a deceção formal
superam num lampejo,
com a força surreal
no momento do adejo.

Nos lautos sopros de Éolo
sublimam receios e incertezas
com sua alva envergadura
de esperanças e fortalezas.

Julho 2020          Hugo Ferreira Pires