sábado, 26 de novembro de 2016

Emigrante

Emigrante que lutas lá fora
Pelo pão que sonhas comer no teu país;
Hás de voltar e tornar a ser feliz,
Hás de voltar à terra que te chora.

Bendita a hora do regresso à terra natal!
Para trás deixas amigos curtidos e benditos,
Outros tantos inimigos, arrogantes e malditos,
Que o mundo é feito de gente desigual.

Lá de longe, de outro país,
Trazes a neve e o frio nas mãos,
Calor e chuva de países irmãos,
Vida que o coração não quis.

No teu rosto, a visão salgada da mudança,
Concretizas enfim o sonho da tua ânsia.
Ali está o rio da tua infância,
As árvores e os teus sonhos de criança.

E com os olhos dormentes de saudade
Abraças com ternura amigos e familiares,
Porque é deles que se fazem as saudades
Uma vida inteira de amor e amizade.

Entre amigos sorridentes voltas também tu a sorrir,
Momentos aguardados no cálice da temperança.
Finalmente no teu país, entre as mãos da lembrança,
Caminho que talhaste com a força de nunca desistir!

Novembro, 2016          Hugo Ferreira Pires          


domingo, 20 de novembro de 2016

Salto

Dou um salto no vazio...
E nesses escassos pequenos instantes
Que medeiam o alto, das águas latejantes,
Treme o meu corpo num calafrio.

Mergulho no aconchego deste lago,
Envolvo-me nos seus braços de ternura
Embalado num luar de alva brancura...
E num repente... volto num flutuar de mago.

Do fundo das águas voltei renascido,
Batismo cristalino na pureza deste verão.
Respaldo da alma na força da purificação,
Resgate do espírito num mundo esquecido.

O fogo do Sol volta a invadir-me o olhar,
O ar dos céus retorna pujante ao meu peito,
A leve brisa envolve-me num abraço satisfeito,
Da água recebo a liberdade e da terra o caminhar.

Agosto, 2016          Hugo Ferreira Pires


segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Encontro

Domingo. Encontro marcado para as quatro e meia.
Tarde cinzenta embalada pelos ventos outonais.
Por ti espero, o tempo passa, a minha mente devaneia.
As densas nuvens desfazem-se em pequenas gotas celestiais.

Num inesperado repente ansiado, surgiste do fundo da rua,
Na estrada caminhando, gotejada pelo céu, trazida pelo vento,
Vestido simples, longos cabelos, negros como breu sem lua.
Pele alva como a paz, lábios rubros e carnudos, olhar firme de alento.

Nas nossas faces sorridentes três beijos se trocaram,
Nossos olhares tocaram-se e o sol abriu-se no meu coração.
Entre duas chávenas de chá, delicadas palavras flutuaram,
Conversas navegaram num mar de emoção... ou talvez de ilusão.

Envolto no teu élan, ao som da tua franca delicadeza,
Encontrei-me num discurso perdido no teu olhar de alquimia.
Ancorado em ti, embevecido no porto da tua beleza,
Ondulando o meu olhar nos teus lábios de maresia.

Levado na brisa desta tarde outonal o tempo voou,
Nossas palavras secaram nas chávenas já arrefecidas.
Juntos caminhámos até onde a despedida nos almejou
Entre árvores vazias e folhas pelo chão perdidas.

Desse dia já passado tudo recordo como um vitral:
Imagens coloridas, faces sorridentes, uma mente iludida.
Tudo passou de brilho a fosco, de mágico a trivial...
Foi apenas uma tarde de outono no verão de uma vida.

Novembro, 2016          Hugo Ferreira Pires    


domingo, 6 de novembro de 2016

Meu Coração

Viajas, meu coração, num mundo de tempo vindouro
Sobre um mar sem tréguas onde se ergue a viagem,
Onde naus antigas elevaram suas velas ao alto de ouro,
Gritando a liberdade do sonho, da aventura e da coragem.

Anseias, meu coração, pelas sonhadas terras distantes,
Navegando entre o céu infinito e o mar flutuante,
Orando no convés, de olhos fitos nas estrelas ofuscantes,
Onde Deus é declamado a cada poema de esperança latejante.

Chegas, meu coração, num porto de chão salgado de memórias,
Onde gentes ali trocaram os dissabores pelos sabores da vida,
Onde naus atracaram os seus ventres inflamados de histórias,
Onde descobertas se fizeram com a luta de gente erguida.

Queres, meu coração, viver um ventre de descobertas
Numa linha de tempo secular, milenar, universal,
Lutando pelo desabrochar das terras encobertas.

Buscas, meu coração, o oxigénio da tua chama astral,
A qual será a chave das ancestrais terras abertas,
Onde finalmente encontrarás a razão existencial.

Novembro, 2016          Hugo Ferreira Pires