Mora em mim o fascínio pelo
mar,
fascínio inquieto sobre a
espuma irreverente
rasgando as espessas brumas do
desconhecido,
navegar azimutado às terras do mar fremente.
Nas minhas veias corre a
pujança do mar profundo,
do insuspeitável, do
insubmisso, do invisível,
mar translúcido ao vulgar
julgar dos Homens,
mar concreto na vastidão de um
crer irredutível.
O meu corpo é a gigante nau
destemida
assomada por um querer raiando
de dentro;
o meu ser é a nau naufragada
penetrando lentamente mar
adentro;
assim aprendi a amar e a
sentir
a força do seu centro.
Ventre de mar negro e
luminoso,
opressivo e libertador;
mar que com a dor me liberta
do mundo,
refletindo no céu o seu ardor,
atraindo para o seu interior…
a Luz!
Mar, mostra-me o teu mundo!
Transfigura a minha alma
terrestre em alma universal,
mostra-me o negro Universo
absorvido em ti
jorrando em mim como fluxo
ímpar, eterno, colossal!
Mar imenso, mar bravio,
mar com alma de Universo,
leva-me às terras das tuas
gentes,
leva-me aos teus continentes,
faz-me onda de ti e lança-me
às praias
de teus infinitos grãos de
saber,
dá-me à luz no teu mundo
renascido do sal,
imbricado no Universo vital...
Mar, faz-me acordar renascido!
Faz-me acordar iluminado!
Faz-me acordar purificado
recoberto de teu sal
cristalino!
Faz-me caminhar nesses areais
infindos
por ti amassados, por ti
abraçados.
Faz-me absorver a pura
sabedoria!
Mar, mostra-me esse continente
sagrado, puro, eterno,
abissal.
Daí verei o límpido infinito,
serei animado pelo sábio vento
sideral,
serei Uno com tuas
gentes.
Nos rios, às tuas praias
afluindo,
verei desdobradas as luzes
dos verdadeiros mundos de ti
imanentes,
desses mundos inexistentes
aos olhos de quem nunca se
aventurou
a viver em ti...
Outubro 2017 Hugo Ferreira Pires