Sol de Apolo

I - Negrume 

No negrume da noite deambulam
entre as almas esvanecidas
círios apagados que as horas anulam:
gentes da vida esquecidas… 

Fontanários de ex-vida ejaculam
em preâmbulos de atalhos impúdicos,
enquanto cemitérios de ideais especulam,
olvidados, marmóreos, esfíngicos… 

No olhar de Hades brilham
os diamantes, os rubis e as safiras
que em seus faustos palácios ladrilham. 

No dorso de Poseidon navegam as mentiras
como barcos que apodrecem e encalham
em perdidos mares de repetidas iras. 


II - Alvor 

No dourado alvor além-horizonte
estende Ártemis o sagrado beijo
ao sangue irmanado subindo defronte:
galopar vitorioso em crescente adejo… 

É Apolo renascido do breu profundo
profetizando Luz e Harmonia,
esconjurando da noite e do submundo
a negridão, a loucura e a agonia. 

Os mares vibram de azul, verde e anil,
encimados de lúcidos reflexos viajantes…
E nascem ilhas de utopias vestidas de abril! 

Os céus tecem rendas flamejantes
talhadas de flores, colibris e cores mil:
secreta eternidade de luzes atlantes. 

Agosto 2019     Hugo Ferreira Pires