domingo, 23 de outubro de 2016

Tio Vítor

Para Angola cedo partiste,
Deixando Portugal no longe do espaço.
Aguardavam a tua volta, sorriso em riste!
Mas tarde voltaste com a morte no regaço.

Conheci-te depois, na distância do tempo ido,
Numa história de guerra e de saudade,
Conto de um império perdido
Envolto em sonho e elevação, ganância e crueldade.

Das tuas fotos brancas e cinza
Guardo o teu rosto de inquietude feito,
Misto de amabilidade e incerteza
Espelho de bondade no teu peito.

Um dia, num sonho nos encontrámos,
No grupo desportivo que criaste,
Quase sem palavras nos comunicámos
E novamente para longe tornaste.

Aos que a vida deixaram no Ultramar,
A gente da terra erigiu a estátua que lá está.
Não falo de heróis, que na guerra não os há,
Falo sim da dor nos nossos corações, a queimar...

A ti, meu tio Vitor,
Uma rua com teu nome abençoaram,
Desagua no Adro onde nasceste e te choram,
Caminho da tua ausência... rua que sei de cor.

E num mundo diferente,
Vivendo serenamente,
Esperas o retorno ao mundo terrestre,
Tão belo quanto cruel,
Tão cheio de ódio quanto de Amor!
Que o destino te dê Amor,
Uma nova vida cheia de cor!

Agosto 2016          Hugo Ferreira Pires


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