sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Novo Mundo

Mora em mim o fascínio pelo mar,
fascínio inquieto sobre a espuma irreverente
rasgando as espessas brumas do desconhecido,
navegar azimutado às terras do mar fremente. 

Nas minhas veias corre a pujança do mar profundo,
do insuspeitável, do insubmisso, do invisível,
mar translúcido ao vulgar julgar dos Homens,
mar concreto na vastidão de um crer irredutível. 

O meu corpo é a gigante nau destemida
assomada por um querer raiando de dentro;
o meu ser é a nau naufragada
penetrando lentamente mar adentro;
assim aprendi a amar e a sentir
a força do seu centro. 

Ventre de mar negro e luminoso,
opressivo e libertador;
mar que com a dor me liberta do mundo,
refletindo no céu o seu ardor,
atraindo para o seu interior… a Luz! 

Mar, mostra-me o teu mundo!
Transfigura a minha alma terrestre em alma universal,
mostra-me o negro Universo absorvido em ti
jorrando em mim como fluxo ímpar, eterno, colossal!

Mar imenso, mar bravio,
mar com alma de Universo,
leva-me às terras das tuas gentes,
leva-me aos teus continentes,
faz-me onda de ti e lança-me às praias
de teus infinitos grãos de saber,
dá-me à luz no teu mundo renascido do sal,
imbricado no Universo vital... 

Mar, faz-me acordar renascido!
Faz-me acordar iluminado!
Faz-me acordar purificado
recoberto de teu sal cristalino!
Faz-me caminhar nesses areais infindos
por ti amassados, por ti abraçados.
Faz-me absorver a pura sabedoria! 

Mar, mostra-me esse continente
sagrado, puro, eterno, abissal.
Daí verei o límpido infinito,
serei animado pelo sábio vento sideral,
serei Uno com tuas gentes. 

Nos rios, às tuas praias afluindo,
verei desdobradas as luzes
dos verdadeiros mundos de ti imanentes,
desses mundos inexistentes
aos olhos de quem nunca se aventurou
a viver em ti...

Outubro 2017          Hugo Ferreira Pires


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