Lastro timonado em lume brando,
Velejando na dor arremetida;
Tempo dorido saindo lamentando,
Voz dolente de razão
combalida;
Canta seus males os espantando,
Relembrando dia e noite a despedida;
Terra Natal fertilizada de Luz,
Coração ardendo pelejando na Cruz.
Sou a mãe do jovem ido para a guerra
distante
Absorto do risco e da vil realidade;
Perdeu a vida numa rajada, num instante,
Enquanto eu, a Deus rezava, com humildade…
O quarto continua vazio do meu filho distante,
Enunciando as memórias de
sua tenra idade…
Viajou para além,
certamente para o céu,
Deixando-me aqui perdida… no
escuro de breu.
Sou a criança brincando na aldeia,
Correndo em pomares e olivais;
Oiço histórias, minha mente vagueia,
Sonho com Fadas e Princesas Reais;
E nas festas onde nada escasseia,
Brinco à apanhada até não puder
mais…
Percorro o céu olhando as estrelas,
Viajo no espaço em pequenas ruelas.
Sou o emigrante de seu lugar afastado,
Ao sol suando e à chuva
pingando;
Sou alegria em noites de festa e fado
Rindo de dia e à noite
chorando…
A música ressoa no coração triste e desolado:
As gentes, os cheiros e os sabores reavivando
A falta do meu espaço, do
meu lugar…
Minha alegria escondida sob a nostalgia do luar.
Sou o homem apaixonado pela musa
A quem todo o meu ser cegamente se enraizou;
Os passeios, os projetos e o Amor sem recusa
Iluminaram o caminho que o casamento concretizou;
Nossos filhos brotaram com nossa alma infusa,
Cresceram, para longe partiram… a casa
vazou…
Agora, filhos e netos, de suas vidas ocupados,
Se esquecem de nós, dois
velhos desolados…
Lastro de tempo ardente no coração,
Atiçado pela dor arremetida;
Preces a Deus em cada oração,
Estreita voz dorida e combalida;
Seus males canta pedindo a bênção,
Tentando esquecer a despedida;
Terra Natal fertilizada de Luz,
Coração ardendo pelejando na Cruz.
Agosto 2017 Hugo
Ferreira Pires
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