sábado, 29 de abril de 2017

Negra Natureza

Cravaste as garras, corvo danado,
Num frágil melro desenfadado!
Dele arrancaste a vida
Para te servires de comida...

Grita, grita, sua mãe grita,
Que da vida do seu filho está aflita!
Chama, chama, pelo seu filho chama,
Simboliza este mundo sem chama.

Natureza cruel que a todos acenas,
Com sofrimentos atrozes condenas;
No teu equilíbrio aparente
Há dor e terror latente!

Não aguento este chilrear aflito,
Chilreia a morte como um apito,
Canto estridente sobre o corpo ainda quente!
Pobre canto incessante e impotente...

Melro trucidado nas garras desse corvo,
Muito longe te encontras do corpo,
Já não sofre a réstia de ti,
Sofre tua mãe que não sabe de ti.

Mãe melro chilreando resistente,
Bradando a dor e a falta do seu ente;
Presença magoada de quem tem ausente...
E assisto a tudo isto impotente!

Hoje não vejo beleza nem arte,
Apenas vejo a morte num negro estandarte!
Negra natureza que nos circundas de sofrimento
E nos cravas o corpo de choro e desolamento.

Pergunto a Deus qual a razão
De tamanha usurpação!
Não haverá outra solução
Que nos tire desta aflição?

Hoje não canto o Amor,
Lamento o sorimento e a dor
Desta natureza cruel que nos oprime...
Difícil assim é encontrar o sublime....

Abril, 2017          Hugo Ferreira Pires


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